Live de Prevenção: Um pouco mais sobre a Companhia de Busca e Resgate com Cães (CBRESC)

9 de julho de 2020 - 10:35 # # # # #

Foto: Soldado BM Gilseppe Bonazzi/CBMCE (@fire_fotografia)

A Companhia de Busca, Resgate com Cães (CBresc) do Corpo de Bombeiros Militar do Ceará atuou na tragédia de Brumadinho (MG) e no desabamento do Edifício Andréa, em Fortaleza, entre diversos resgates realizados ao longo de 13 anos de existência.

Semanalmente, o Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Ceará realiza, sempre na quarta-feira, uma live sobre prevenção com temas relacionados a prevenir e salvar. Nesta quarta-feira, 08 de julho, a Live da Prevenção abordou o tema: Adestramento e cuidados veterinários. A live contou com a participação do tenente coronel Lino, comandante da Companhia de Busca, Resgate e Salvamento com Cães (CBresc), do 1º tenente Eliomar, do subtenente J. Maria e do cabo Rafael, médico veterinário e foi mediada pelo 1º tenente Aguiar da Assessoria de Comunicação (Asscom).

A Cbresc atua em diversas ocorrências das mais variadas situações em todo o território cearense e até brasileiro, como ocultação de cadáver, em apoio a Policia Civil e Perícia Forense, busca por pessoas perdidas em matas, pessoas desaparecidas com alzheimer, vítimas de estruturas colapsadas, como padrão de vítima, pessoas idosas, crianças e pacientes psiquiátricos, entre outros.

Um breve Histórico

E quando não se sabe onde a pessoa foi parar, depois de um mergulho no açude ou de uma trilha na serra? Nessas horas também, são os bombeiros que têm a missão de busca e resgate. Nesses casos, porém, quem entra em cena são equipes em prontidão permanente, não necessariamente de serviço em um quartel.

Quando a busca é em terra, cabe à Companhia de Busca, Resgate e Salvamento com Cães (Cbresc), um braço especializado do Batalhão de Busca e Salvamento (BBS) com sede no Quartel dos Bombeiros do José Walter (4ªCia/1ºBBM), de entrar em ação. Com a ajuda de cães treinados, eles podem ser chamados a qualquer momento para atuar dentro das fronteiras do Ceará. “Hoje nosso efetivo é composto por dois oficiais, um tenente coronel, comandante, um 1º tenente no comando adjunto e onze praças. Normalmente as equipes de prontidão têm quatro ou cinco bombeiros militares.

Nas ocorrências, sempre vão pelo menos dois cães e montamos duas duplas. Um cão, um condutor e um auxiliar. Fazemos análise da área, utilizamos o GPS e o Google Earth para geomapeamento e traçamos a estratégia de varredura em busca da vitima”, esclarece o tenente coronel Lino, comandante da Cresc, as buscas podem durar dias, tendo frequência bastante diversificada. “São duas equipes. A cada semana, uma está de sobreaviso. Em média, temos duas ocorrências por mês. Há meses sem nenhum chamado, há meses com duas buscas por semana, emendadas. É um trabalho muito gratificante”, sintetiza.

A Cbresc dispõe de 16 cães, nominados a seguir: Anny, Brown, Dana, Dara, Drica, Doug, Duque, Flash, Gaia, Inês, Kelly, Nala, Noah, Sultão, Tupã e Zeus. Das seguintes raças: Boiadeiro australiano (1), border collies (5), golden (1), labrador (7) e pastor belga (2).

A Companhia de Busca, Resgate e Salvamento com Cães (Cbresc) tem sua sede e canil no Bairro José Walter, na cidade de Fortaleza. O início de suas atividades, data de 27 de agosto de 2007 e os pioneiros a trabalhar na Cbresc foram o tenente coronel Lino, o major Alexandre, o subtenente Antônio (RR) e o sargento Daniel.

O treinamento e o perfil do cão de busca

o 1º tenente Eliomar falou sobre o adestramento dos cães e explanou sobre como os cães aprendem, como podem ser ensinados e os principais comandos para uma vida mais segura com os pets, através da teoria de behaviorismo e behaviorismo de Skinner. Já o tenente coronel Lino destacou 4 características básicas como perfil necessário para se ter um bom cão de busca, 1º o cão precisa gostar do ser humano; 2º ter agilidade física; 3º ser valente e por fim, 4º ter foco.

1º tenente Eliomar e a Nala (Binômio)

Depois de servir

Teoricamente, quando se forma um binômio (como se chama a dupla formada pelo guia e o animal), esse só se desfaz em situações bem específicas: falecimento do cão, bombeiro entrando para a reserva ou “aposentadoria” do cão. Só que na prática não é bem isso que acontece. Com o término das atividades de resgate na companhia, os cães passam a ter um novo lar. Eles saem do canil dos Bombeiros e vão morar com seus guias, com quem trabalharam ao longo desse tempo. No caso Uno, a residência do subtenente J. Maria, que já cuida de 2 cães aposentados cão Apollo e cão Uno, nos seus 10 anos de Cbresc e 28 anos de CBMCE.

subtenente J. Maria e cão Uno (Binômio)

“Devido ao vínculo que se cria, o condutor leva o cão, porque não é só uma ferramenta de trabalho, você cria um vínculo que vai além do trabalho. É inimaginável pensar que aquele animal que foi seu parceiro durante anos você vai deixar para trás. Os nossos bombeiros até hoje levam seus cães quando se aposentam para morar consigo. Eu, inclusive, levei o meu”, conta o tenente-coronel Lino, comandante da CBresc.

Em seu novo lar, Athos já é tratado como um ente da família. “Era um momento esperado. Lá em casa já estávamos nos planejando para recebê-lo assim que encerrasse as atividades aqui no canil. A família toda já se apegou, leva ele para passear, as crianças ficam abraçando e beijando direto. Acredito que ele está na vida que sempre sonhou”, confidencia o cabo Argeu.

soldado Maílson e cão Tupã 

Nascidos para resgatar

Essa afetividade criada é em decorrência do trabalho de confiança e cumplicidade fomentado desde o nascimento dos animais. Esse vínculo, para o comandante, é que faz a diferença no trabalho. “O principal comprometimento no serviço é a relação que há entre o cão e o condutor dele. Depois de começar o vínculo e a relação de treinamento, eles perduram. Para isso, todo o estímulo positivo é levado pelo condutor ao filhotinho durante os treinamentos e até na vida adulta do cão. Tudo o que você pensar de bom é esse cara (condutor) que leva. Se você pensar em algo que possa gerar uma dúvida no cão, como por exemplo dar uma injeção, é outra pessoa que faz para que ele nunca possa associar um fato ruim à imagem do condutor. Com isso, eu desenvolvo no cão a imagem de que tudo de bom vem do condutor e isso é muito importante na ocorrência, principalmente para acessar locais de estabilidade duvidosa, pois ele já acredita que ali é seguro, muito embora a gente saiba que o motivo de utilizar o cão é poupar o homem”, comenta o tenente-coronel.

cabo Argeu e cão Athos (Binômio)

Para se criar essa confiança mútua e obter melhores resultados com os treinamentos, os cães utilizados pelo Corpo de Bombeiros Militar do Ceará nascem já no canil da corporação. “Na nossa companhia esses cães preferencialmente nascem aqui, porque já nas primeiras semanas de vida começam os treinamentos para a gente não perder nenhum momento dessa evolução deles, de filhote até um cão pronto”, destaca o comandante Lino.

Até ficar apto para o trabalho em campo, os animais passam por treinamentos em um período de 18 a 24 meses. “Você vai trabalhar a parte de socialização, apresentar todos os barulhos que ele vai encontrar no trabalho, quer seja em um escombro, em região de mata. O animal vai ter que se adaptar a andar em solo instável. Ele não pode se distrair. Todas essas situações são apresentadas para o cão ao longo desses dois anos. Junto disso, vem a parte física. Mesmo o cão naturalmente sendo mais condicionado que o ser humano, já que enquanto um homem varre uma área de 10 mil m² em oito horas, ele faz em 20 minutos, tem que haver treinamento físico até o animal chegar no ponto em que a gente ache que ele vai servir bem ao propósito, não vai se cansar facilmente e vai dar uma resposta mais rápida, principalmente quando a gente estiver atrás de pessoas ainda vivas em estruturas colapsadas ou em matas”, explica o tenente-coronel Lino.

soldado Gomes e Anny (Binômio)

Certificação

Os cães depois do treinamento passam por certificações estaduais, regionais e nacionais. São provas feitas para comprovar que os animais estão aptos a realizarem o serviço de busca. Agora em julho oito cães do CBMCE vão passar pela certificação. Até hoje, o percentual de aprovação tem sido 100%.

O comandante considera a escolha das raças um ponto importante para o sucesso do trabalho da companhia. “Você tem que considerar a regionalidade do lugar. Aqui na capital quando a temperatura dá 28º é até razoável. Mas no sertão, a gente já mediu em solo e ela chega a dar 42º. Não é toda raça de cão que aguenta isso. Quando você vai trabalhar o cão como ferramenta, tem que saber para o que você quer. No nosso caso, que é busca e resgate de pessoas, tenho que ter um cão que ofereça resistência física, boa envergadura, dinâmica e que goste de ser humano. As raças que mais se adaptaram para nós foram o pastor belga de malinois, boiadeiro australiano e o labrador”, pontua Lino.

Cuidados com os cães

O cabo Rafael Gomes, que também é médico veterinário, esclareceu que os cães da Cbresc recebem alimentação super premium,  tem constante acompanhamento veterinário quer preventivamente como também em seus treinamentos e em ocorrências. Esse acompanhamento é reforçado por conta de parcerias com universidades e apoiadores civis.

Os cães da Cbresc tem um programa de treinamento físico para que possam desenvolver sua capacidade física e coordenação motora, assim como, atividades de desenvolvimento cognitivo para que seja fortalecida sua obediência, e, também atividades coletivas, sempre acompanhados dos seus binômios exclusivos.

Vidas alheias e riquezas salvar!