Projeto Memória do CBMCE: Operação Pacoti 1988

28 de maio de 2023 - 10:47 # #

Assessoria de Comunicação do Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Ceará

Projeto Memória do CBMCE: Operação Pacoti 1988

Subtenente BM RR Francisco das Chagas Fernandes Gonçalves

Em Outubro de 1988 o Curso de Formação de Sargento do 23° Batalhão de Caçadores (23ºBC) numa Operação Ribeirinha no complexo de açudes Pacoti-Riachão-Gavião, por ocasião de umas manobras noturnas, uma das equipes teve a embarcação sinistrada, todos os componentes usando Equipamentos de Proteção Individual (EPI) como estavam, não se acidentaram e habilmente desviraram o barco, mas alguns materiais tendo os cabos que o seguravam se partido, e soltando as amarrações foram para o fundo do PACOTI numa área com profundidades entre 17 a 27 metros e de pouca limpidez, ou seja, pra mergulhos diz-se de pouca visibilidade.

Dia 11

No dia 11 de Dezembro, eu estava de serviço e, ao cruzar o pátio do Quartel Central (QC), fui chamado pelo Senhor Coronel Montoril, que se a memória não me trai era o Comandante-Geral do Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Ceará (CBMCE), na época, que naquele momento se postava bem próximo à caixa d’água conversando com o então Capitão Duarte Frota, comandante da Seção de Busca e Salvamento (SBS).

Eu prontamente o atendi, quem me perguntou: “Gonçalves, você já esteve naquela operação de resgate ao material do exército? ” e eu respondi que só tinha ouvido falar, então ele falou, “o equipamento está no fundo do açude PACOTI há mais de 40 dias e já estiveram lá várias equipes de mergulhos inclusive da Petrobrás, e não encontraram nada, e amanhã cedo é para vocês formarem uma equipe de mergulhos pra encontrar o material, viu, Gonçalves!?”.

No mesmo instante que olhei para Capitão Duarte Frota eu respondi: “Sim, Senhor Comandante”, e me retirei da presença dos dois. Logo em seguida, o Capitão Duarte me chamou e fomos listar os nomes dos mergulhadores a serem escalados para a missão e no outro dia cedinho, ao chegarem para o expediente, já estaríamos partindo sem perda de tempo pra área a ser mergulhada.

Dia 12

No dia seguinte, 12 de Dezembro, uma equipe constituída do Capitão Duarte Frota, dos Sargentos Gonçalves, Roberto, Costa e Nildo, e dos Soldados F. Antonio, Rafael e Conrado, partiu para o açude Pacoti levando o equipamento de mergulhos específico para os trabalhos de Busca e Resgate do material bélico perdido pelos alunos do CFS do 23º BC.

Chegando no local do acidente, já dava pra se perceber dois fatores que possivelmente dificultariam os trabalhos de vasculhamento e busca material:
1- Profundidade informada por outras equipes de mergulhos que lá estiveram, ser de 17 a 27 metros, acima já citada, logo em seguida confirmada por nossa equipe.
2- O sinistro ocorreu em noite escura numa área muito grande, com as margens bem distantes deixando o local sem nenhum referencial de aproximação.
Ao longo de mais de dez anos de buscas e resgates em lagos e açudes, a experiência havia me mostrado que o ribeirinho, e principalmente se for pescador, ele jamais informará errado o local de um desaparecimento na superfície de uma água, se ele tiver presenciado o evento a qualquer distância que ele se encontre. Então, podemos observar uma casa na margem esquerda na aba de um serrote com vistas para o local.
Já em deslocamento pra contactar alguém que possivelmente teria visto! Logo nos deparamos com um cidadão numa canoa e o seu material de pesca, que ao ser questionado, nos informou ser morador da tal casa e que mesmo sendo a noite escura nos colocava na área sem medo de errar, e nos mostrou uma área não tão pequena, e ainda disse que não poderia ser menor devido à distância entre o olho dele e o local, e isto pra nós foi determinante.
Fizemos a demarcação com boias pra em seguida darmos início à operação de mergulhos propriamente dita.
Divididas as duplas com seus respectivos tempos e intervalos de superfície, eu e meu dupla ficamos por último, pois eu preferi ficar em apneia enquanto o restante do grupo fazia o trabalho com cilindros e o compressor de baixa pressão, sistema de narguilé.

Um adendo

– AQUI um adendo: optei por ficar em apneia por estar saindo de uma temporada de caça submersa, onde eu mergulhei durante quase 9 meses todos os dias de 8 às 16h, parando um Domingo a cada 15 dias, e isto me levou até sem perceber a mais de 5 minutos de tempo de fundo, e aquela profundidade realmente era convidativa a um treinamento ao mesmo tempo que me dava mais tempo de mergulhos, já que eu teria bem menos acúmulo de nitrogênio no organismo.

A operação de busca 

E assim foi iniciada a operação de mergulhos por volta de 9:30 às 10:00, com todas as duplas fazendo seus tempos de fundo normalmente, porém sem êxito nenhum, e lá pras 13h chegou a vez da dupla Gonçalves e Roberto, quando nos equipamos dentro dos padrões, e prontos que estávamos, iniciamos a descida, que por ironia do destino foi em cima do local da minha subida do último mergulho em apneia naquele dia, quando parei pra passar ao trabalho com cilindro, com mais uma apneia eu teria localizado o equipamento a peito livre, pois na descida, equipados, ao nos aproximarmos do fundo lamacento foi possível vislumbrar alguns dos equipamentos que se encontravam bem próximos, o que nos facilitou o resgate.

Equipamento este que constava de dois fuzis FAL e uma ESTAÇÃO RÁDIO, nos dando assim o privilégio de podermos dar por encerrada toda operação por volta das 15:30, do mesmo dia, com mais ou mesmo 6 a 7 horas de operação aquática, com êxito total, o que nos rendeu elogios individuais para ficha, como também condecoração do Ministro do Exército, com a medalha de: AMIGO DO EXÉRCITO BRASILEIRO, para alguns, se não me engano.

Observação: O material se encontrava em perfeito estado de conservação, e próprio para uso imediato, após 45 dias na profundidade citada, o primeiro fuzil foi levado pra superfície pelo Roberto, que ao emergir apontou pra cima e apertou o gatilho disparando uma rajada perfeita.

E assim foi a operação PACOTI RIACHÃO, totalmente exitosa, para colocar o CBMCE no seu lugar devido, perante a população e a mídia.
Para o CFS-88 23°BC; quanto para o E.B. de um modo geral, que já tinha mandado instaurar o inquérito para apurar as responsabilidades e indenizações cabíveis, foi deverasmente positivo.

Ass. O Velho MG GONSA.